sexta-feira, 16 de junho de 2017

Izzie, eu te entendo

Izzie, eu te entendo. Entendo sua angústia e desespero. Sei que a vontade maior é de voltar no tempo e fazer as coisas tomarem um rumo diferente. Mas não vão tomar, então desista. Eu te entendo. Entendo quão grande é a sua frustração. O quanto parece impossível refazer os planos, mudar o rumo dos sonhos, enxergar uma nova possibilidade. Agora não há mesmo novas possibilidades. Aceite. Izzie, eu sei como é ver todas aquelas palavras bonitas virarem fumaça porque o destino, ou a vida, ou o acaso, fizeram questão de mudar tudo e te deixar de mãos vazias. Isso está fora do seu controle. Não se desespere. Eu sei Izzie que parece irônico ter o sonho realizado e em fração de segundos tudo desmoronar. Do céu ao inferno em uma respiração um pouco mais longa. É difícil. Parece que nada mais vai funcionar, nada mais vai fazer sentido. E agora não faz. Mas sabe, Izzie, eu tenho certeza que, assim como eu, você não se arrepende. Você sabe que deu o seu melhor e lutou o máximo que pôde. Você não desistiu, você cuidou, você apoiou, você segurou a mão, você amou. Amou um tanto que mal cabia dentro de você. Amou até transbordar. Amou. Ama. Foi amada. É amada. E assim como poucos entendem a sua dor agora, poucos foram amados como você. Todos que te disseram que era loucura, que você não deveria entregar seu coração a um caso tão complicado, não sabem o que é ser amada como você foi. A certeza de que não há culpados, não há erros, não há desistência é o único bálsamo existente. O que você viveu, Izzie, é raro. É entrega pura, verdadeira, daquelas que vão marcar sua vida pra sempre. Então viva o seu luto. Todo fim precisa ser sentido, pode dilacerar, pode paralisar, mas precisa ser vivido. E então, Izzie, quando você for capaz de vislumbrar um pequeno feixe de luz a diante, abra os olhos. Abra os olhos devagar, se acostume novamente à luz. Até que seja capaz de se olhar no espelho e ver que, no fim de tudo, você foi e é uma privilegiada. Acredite em mim como eu entendo você.

Referência: Izzie Stevens, do seriado Grey's anatomy.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Te espero

Aceito sua ausência. Ela é sentida diariamente. É encontrada em cada olhar perdido meu. É percebida por qualquer um que esteja um pouco mais atento. Mas não há dor, ou ressentimento. Há fé. Há esperança. Sua procura é tão longa e angustiante quanto a minha. Eu entendo. E aceito. Porque além de vontade de te ver de novo, há certeza de que esse momento tem seu próprio tempo. Sinto saudade. Saudade porque eu sei que há de ser um reencontro. E sei que você também sente essa distância rasa, estreita, próxima... Você sabe que se estendermos as mãos, poderemos tocar um ao outro. Caminhamos lado a lado. Posso sentir seu cheiro, o calor da sua respiração no meu cabelo, num abraço longo e consolador. O timbre da sua voz é familiar, é melodioso, é um pouco meu também. Se prestar bem atenção, consigo ouvir o som das teclas enquanto você digita seu relatório para a empresa. E você também ouve o som das minhas teclas, e sabe que escrevo para você. Sabe as músicas que vou ouvir enquanto te escrevo, e procura suas cifras para me acompanhar. Sabe ainda que será meu companheiro quando for visitar a torre Eiffel. E que vai tirar aquela foto clássica, já que é você que conhece meu melhor ângulo, e liberta meu sorriso mais gostoso, minha risada mais sonora. Sabe também que a minha afinação voltou, só porque você está perto o suficiente para aquecer tudo, até minhas cordas vocais. Sabe que aquele pijama macio espera por você dentro da gaveta. Sabe que se há brilho nos meus olhos é porque eu sei que vou ver você ajeitando os óculos para me ver procurar feito louca minha caneca preferida, que você escondeu de propósito. E ver você tirando os óculos quando eu chegar perto e te pedir um beijo. E você vai sentir minha pele gelada quando percebo que vou ganhar um pouco mais que isso... Essas certezas nos acompanham. São elas que tornam essa espera menos sofrida. E essa saudade só não dói porque de algum jeito, misterioso e óbvio, estamos juntos nessa espera, certos de que falta muito pouco...

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Lá estava o menino. Ele estava ali, sentado no cantinho, tentando acertar quantas joaninhas pousaram na parede. Ele não queria ouvir. Eram gritos muito altos. Aquele som o acompanhava fazia tempo, e ele só queria um pouco de silêncio. Um silêncio em que coubesse sua voz de menino, seus medos de menino. “Por que falam tão alto?”, pergunta o menino para si mesmo. E uma voz generosa responde dentro daquele coraçãozinho: “É que eles estão distantes demais para ouvirem um ao outro.” Um pouco espantado, e encucado, o menino questiona: “Longe? Como longe? Eles estão pertinho, lá na sala de TV!”. E a voz paciente esclarece: “Seus corações, meu menino, esses sim estão muito longe. É preciso gritar para ser ouvido”. Sem saber muito bem como, o menino entende exatamente o que aquela voz quis dizer, e tudo faz mais sentido agora. Inquieto, ele olha em volta, passa os olhos devagar pelos espaços, como quem procura. Se abaixa diante da porta do quarto do irmão mais velho, e dá uma olhadela por debaixo da porta. “João tá de brincadeira comigo, só pode!”, ele se convence. “Não é o João, meu menino”, se manifesta a voz dentro dos seus ouvidos. “Sou Eu. Seu melhor amigo. Fique sossegado. Eu estou aqui”. “Meu melhor amigo? O Pedrinho tá na casa da vó dele!” Então a voz mansa sorri levemente, e ajuda: “Eu ouvi sua oração enquanto contava as joaninhas na parede. Eu te ouço todas as noites. Sei que as brigas te amedrontam, e que você pensa que seus choros não são ouvidos por ninguém. Mas eu te ouço, criança. Eu te sigo por onde vai, recolho suas lágrimas, alivio suas dores, escuto suas preces...”. “Escuta mesmo? Duvido! Escuta nada! Eles ainda brigam todos os dias e parece que só piora! E eu fico aqui, sozinho!” E mais uma lágrima desce daqueles olhinhos sofridos. “Oh meu menino... há tanto para entender... e você é apenas uma criança. Eu quero abrir os olhos do seu pai. Quero mesmo. Quero fazê-lo entender que a bebida faz mal demais a ele, e que o trabalho enobrece. Sua mãe também chora quando você está dormindo, e me pede força. O que ela não entende é que eu só posso agir através dela mesma. Ela precisa agarrar a força que eu ofereço e tirar vocês daqui até que seu pai melhore. Mas ela também tem muitos medos. Você entende?”. Os olhos do menino estão arregalados. Como aquela voz pode saber tanto sobre ele, seus pais, suas lutas? Como ele sabe que seus dias são chorosos, e que sua família está por um fio? A luz acende. É sua mãe. Ela se abaixa, olha para seu menino. Seus olhos estão marejados. Mas há tanta ternura neles... Ela veio dizer que o jantar está pronto. “Vem almoçar, meu amor! A mamãe fez sobremesa!”

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Liberdade

De repente acorda e se dá conta de que está vivo. É capaz de sentir o sangue percorrendo suas veias em alta velocidade, quase queima. O cérebro processa informações nunca antes percebidas, e os pulsos pulsam como nunca. Sentimentos se organizam de forma lógica e clara. É tempo de liberdade, de libertação. O corpo entra em uma sintonia palpável com o todo, e entende finalmente onde pertence, qual é o seu lugar. Seu lugar é o mundo. Não há mais amarras frouxas. O elefante se dá conta que é mais forte que a corda, e ele a arrebenta como um nó frouxo. As cores vibram, brilham, realçam. Formam mosaicos coloridos e intensos, como o coração. Este se dá conta de quanto tempo perdeu. Perdeu tempo, perdeu vida, perdeu a chance de bater descompassadamente por tantas vezes. Um descompasso que equilibra, liberta, emana humanidade. Humanidade esta que estava esquecida em meio ao caos da realidade que aprisiona. Necessidades práticas empurram a vida para o canto. Aperta até explodir. E nessa explosão as energias se espalham em ondas intensas de calor e força. Coragem. Coragem para o não. Coragem para o sim. Coragem para o “vem”. Coragem. Reencontro. Reencontra quem é, o que quer. Reencontra a si mesmo. E comemora. Comemora naquele bar que sempre foi, com a cerveja que sempre bebeu. Comemora com o de sempre, porque nova é a lente que usa pra ver o mundo!

sexta-feira, 29 de março de 2013

O meu outono...


Passou o tempo. Hoje, parece ter sido tão rápido... Uma calmaria leve toma conta dos meus dias, antes tão desgastantes e sofridos. Hoje, a palavra de ordem é construção. Construo rotina, planos, laços. Construo o momento pelo qual tanto esperei. Hoje é tão claro o quanto cada minuto angustiadamente acompanhado foram úteis. Aprendi a medir o tempo e a deixa-lo passar. Passar! Deixar o tempo e suas mágoas irem embora. Permitir que as lembranças sejam mais superficiais e menos doloridas. E hoje elas são. Cada dia mais suaves, uma brisa que a gente quase não sente chegar. E se antes os minutos passavam lentamente, hoje já não os observo mais. De repente são dezoito horas, de repente é sexta-feira, de repente já é outono! E de repente em repente, os dias vão passando com uma felicidade discreta, contida, real. Acho que vivo agora em um outono permanente. Temperatura suave, um solzinho cálido, aquela brisa leve. Caem folhas velhas, recupero a vitalidade perdida em tantos anos de cansaço, economizo energia para o verão, e fica aquela sensação de equilíbrio constante. Até quando será assim? Só Deus sabe!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O que restou de nós


A gente nunca mais se viu. Não tenho notícias suas desde aquele dia. Nem você de mim. Sei que você me culpa pela sua infelicidade. Diz que eu poderia ter feito diferente, e que as minhas escolhas te afetaram demais. Sei que se pergunta todos os dias como teria sido. Sei que passa na minha rua quando pode pra ver se estou na janela. E que as lembranças de nós dois te perturbam como fantasmas insistentes. Eu sei. E não fiz. E não faria. É assim que deveria ser, como é. Ficou muita coisa não dita, não vivida. Mas tudo foi sentido até a última gota, até o último sopro de querer. E se você quer saber, não foi nada fácil pra mim também. Evitei (e acho que ainda evito) qualquer coisa que lembre você. Nada de botões de rosa, nada de Guns, nada de mensagens em inglês. Sendo assim, sobrou quase nada. Só uma saudadezinha que vez ou outra perturba o sono, arranca um sorriso, provoca um brilhinho nos olhos. Uma lembrança fora de foco de um beijo sofrido, cheio de culpa. Um cheiro marcado que a lembrança faz sentir de longe. Ás vezes lembro os planos que fiz sozinha pra nós dois. E que no minuto seguinte deixava ir porque sabia que eram bobagens. Supero a sua ausência todos os dias. E quando consigo, finjo que você nunca existiu. Porque a gente nunca mais vai se ver. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Romance


Eles se gostavam
Eles se entendiam
Estar junto era acalmar o espírito
E se aconchegar

Mas aí... descompassou
As notas já não formavam melodias
As palavras não se transformavam em poesia
Desandou

O mais difícil era admitir
Olhar nos olhos e dizer que o voz e violão já não combinavam
Aceitar que os passos eram descompassados
Não dava pra caminhar

E foi triste
Feito criança que cai do balanço
Ela chorou
Ele se arrependeu

O fim desse romance
Que não deveria ter tido fim
Deixou marcas na história
E saudade no coração...