Chegou dezembro. Nunca fui de fazer
muitas reflexões nessa época. Mas esse foi um ano que merece um momento
exclusivo dos meus pensamentos. Acho que posso dizer que me renovei, me refiz. Refiz comportamentos,
refiz vontades, refiz sonhos, refiz hábitos, refiz sentimentos. Me reinventei. Me
redescobri. Me reencontrei. Passei anos esquecendo de mim para satisfazer
outro, qualquer outro, talvez você, nunca a mim. Passei anos me apoiando em
algo que agora descubro ser de fumaça. Ao me dar conta disso me vi de pernas
bambas, como uma criança que ensaia os primeiros passos. Caí. Muito. Doeu. Me
machuquei muito também. Mas não demais. Apenas o suficiente para conhecer meu
poder de reconstrução. Sim, me reconstruí. Mas agora em bases sólidas. Em mim mesma.
Em minha fé, meu poder de escolha, meu poder de decisão. Hoje me vejo como uma
certeza, não mais como uma possibilidade. As pernas agora estão mais firmes. O choro
já não vem pelos mesmos motivos. Ou até vem, mas sem a mesma intensidade. A criança
cresceu e deu lugar a uma moça ainda frágil, ainda sedenta de carinho e afeto,
mas não mais dependente disso. Uma moça que sonha cada vez mais alto, mas não
depende de ajuda para realizar. Uma moça que se arrisca um pouco menos, porque
reflete e sabe que nem todos os riscos valem a pena correr. Essa moça ainda tem
medos grandes, ainda chora de raiva, ainda é sensível demais, ainda se apega e
sofre. Mas talvez um pouco menos, ou com mais de maturidade. Os desesperos
constantes são apenas uma lembrança. Ou talvez nem isso. Agora essa moça sabe
que tempo não diz muita coisa. Ela aprendeu a encarar suas angústias que ainda
vem, e a superá-las em seu tempo, porque não há mais quem diga que são bobagens.
Ela sabe que haverá muitos testes para sua nova versão. Ela sabe que vai
fraquejar muito. Ela sabe que muitas dores estão por vir, porque a vida é
assim. Mas ela não se desespera mais, não se deixa ser tomada pelo desespero
dilacerante. Se aquieta e chora, até que o alívio chegue. Ela é feliz assim. Eu
sou feliz com essa nova moça que mora em mim. E o tempo, que mostra quem fica e
quem vai, mostra também quem chegará. E agora sou uma pessoa um pouco melhor,
que merece mais. Uma companhia melhor. Pode vir, estou te esperando. “Venha
quando puder”.
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